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Precisamos discutir seriamente o SUS

Precisamos discutir seriamente o SUS

Antes de cair em armadilhas ideológicas e políticas do Presidente eleito.

Opinião:  professor MARCO AURÉLIO

 

Quando eu era pequeno, todo mundo do KM 18 e Jardim das Flores ia a dois médicos: Dr. Edson e Dr. Armando Moioli. Eles eram os médicos dos bairros. Minha mãe ia em outro médico, o Dr. Newton, referência na cidade. Há uns cinco anos, fiquei sabendo que ele ainda atendia, com seus mais de 82 anos. Ali, no centro, numa clínica na rua do Colégio Misericórdia.  Eram tipo médicos de família. Nunca tiveram como obsessão ficarem ricos.

Resolvi contar essas histórias, por causa da polêmica sobre os médicos cubanos. Dráuzio Varela, meu ex-professor, declarou à Folha que na sua formatura, como orador, defendeu o SUS. SUS é o maior plano de saúde pública do mundo. Pena que não é como todo mundo sonha e quer. Por isso, o Programa Mais Médicos nasceu para tentar fazer avançar o SUS, em regiões onde nossos recém formados não querem ir de jeito nenhum.

Afinal, por que parte da população odeia tanto Cuba? Tem intelectuais, jornalistas, gente na internet que simplesmente odeia Cuba. Nem sabem onde fica. Nem sabem que a Ilha enfrenta boicotes econômicos há 50 anos. Nem sabem que Cuba exporta seus médicos para 62 países, Nem sabem que quem desenvolveu esse programa foi Che Guevara, que saiu da Argentina em direção à Cuba no final dos anos 50 do século XX e de moto.  

Presidente eleito, tá na hora de você aprender a usar melhor as palavras…

Tenho ouvido muito assim: o presidente chama de analogia aos escravos, o salário pago aos médicos cubanos. Erro grave do eleito.  Analogia, segundo o dicionário escolar da Academia Brasileira de Letras, quer dizer explicar uma coisa, mostrando como ela é similar a outra.

Nesse sentido, os cubanos nunca poderão ser comparados a escravos, pois tem salário e são empregados do Governo Cubano. Presidente eleito, tá na hora de você aprender a usar melhor as palavras, mesmo que você ache que está agradando uma parte dos eleitores brasileiros. O presidente é de todo o país.

Quero dizer então que os escravos de verdade não recebiam nada, eram ferramentas dos fazendeiros e andavam descalços. No Brasil do século XXI, nossos escravos estão na mão de fazendeiros que empregam trabalhadores brasileiros sem pagá-los.

Outra coisa, se for assim: no Brasil do século XXI, escravos são todos que recebem o salário mínimo, que não chega a mil reais por mês. Escravos são os professores que ganham pouco e em 2019 terão que suportar o famigerado projeto Escola Sem Partido, que lembra muito a Ditadura Militar, falecida em 1985. Escravos são todos os brasileiros que trabalham (fora da lei) em grandes fazendas desse país.

Seguramente. Os médicos cubanos não podem ser análogos a nada. Você está muito errado presidente eleito, e o mais grave, suas opiniões sobre os Mais Médicos tem sintonia com os médicos e médicas que insultaram o colega cubano num aeroporto do nordeste. Sua opinião sobre os Mais Médicos, revela um enorme desconhecimento da nossa saúde pública. O povo brasileiro, pela primeira vez na história, teve saúde pública de verdade, nas menores cidades desse país. E precisa do SUS cada vez melhor e mais igualitário.

Quero dizer, também, que tenho a sensação que até 31 de dezembro, o governo Temer fará coisas que o eleito gostaria de fazer, mas não tem coragem. Há, possivelmente, um acordo entre eles para ferrar o povo, sem dó.

 

Marco Aurélio Rodrigues Freitas é Jornalista, Biomédico, Historiador e Professor das redes municipal e estadual de São Paulo. Escreve suas crônicas todas as semanas no Planeta Osasco.

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Marco Aurélio

Marco Aurélio Rodrigues Freitas, Jornalista, Biomédico, Historiador e Professor das redes municipal e estadual de São Paulo. Crônicas no Planeta Osasco.

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