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Após sucesso de público e crítica, Gota D’Água {PRETA} faz apresentações especiais no auditório do Ibirapuera e no Galpão do Folias

Nova versão do texto Gota D’Água, vista por quase cinco mil pessoas em duas temporadas, retorna aos palcos em maio. A montagem realça a realidade negra, a discussão social e de classes e o protagonismo da mulher preta

Elcio Silva, especial para o PlanetaOsasco.com

A peça Gota D’Água {Preta} reestreia no Auditório do Ibirapuera em três apresentações especiais de 10 a 12 de maio, sexta e sábado, 20h, e domingo, 19h. Na semana seguinte, em formato intimista, de 15 a 19 de maio, estará no Galpão do Folias, de quarta a sábado, 20h e domingo, às 19h. A montagem, projeto do premiado ator, diretor e dramaturgo Jé Oliveira, fundador do Coletivo Negro, mostra a versatilidade do artista ao transitar entre o Rap e a MPB. Em seu último trabalho, homenageou os Racionais MC’s com a peça-show Farinha com Açúcar que rodou o país por três anos.

Pela primeira vez com um elenco predominantemente negro, o espetáculo traz para a cena paulistana a realidade negra que perpassa a obra Gota D’Água, escrita por Chico Buarque e Paulo Pontes em 1975.

Inspirado na tragédia Medeia, de Eurípedes, Gota D’Água Preta traz como personagem principal Joana, mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional. Jasão, seu ex-marido, é um jovem vigoroso, sambista que desponta para o sucesso com a composição da canção que dá nome à peça. Agora ele é noivo de Alma, filha de Creonte, corruptor por excelência e o detentor do poder econômico e das casas, a Vila do Meio-dia, local onde antes morou com Joana e os filhos. Se em Medeia havia reis e feiticeiros, na tragédia brasileira Gota D’Água Preta temos pobres e macumbeiros, além de um coro negro, em alusão ao grego.

De modo inédito na história do teatro brasileiro Joana, interpretada pela cantora e atriz Juçara Marçal (Metá Metá), e Jasão, vivido por Jé Oliveira, são negros. A escolha política-estética do diretor traz a força da musicalidade ancestral e a influência das religiões de matriz africana.

“É como se estivéssemos realizando a coerência que a peça sempre pediu e até hoje não foi realizada”, destaca Jé Oliveira. “A personagem é pobre e é da Umbanda. Tudo leva a crer, pelo contexto histórico, social e racial do país, que essa personagem é preta. Estamos realizando o que a peça insinua. Estamos de fato enegrecendo a obra de Chico Buarque e concretizando o que ele propõe.”

A montagem não busca apenas uma reparação histórica para diminuir um hiato sobre a presença negra em papéis relevantes na dramaturgia nacional, mas sobretudo, propõe uma re-atualização, com base na coerência, ainda não realizada por nenhuma montagem, do clássico drama brasiliano.

“Estamos discutindo traição de classe e de raça”, diz Jé citando a metáfora da traição conjugal. “Ele troca Joana por uma mulher mais nova, então discutimos também o feminismo. Jasão também é preto e com ele debatemos a ascensão social e a legitimidade ética disso.”

Para Juçara, Joana representa a mulher oprimida desde a formação do Brasil. O grito oprimido desta camada da sociedade. As relações humanas servem de pretexto para questionar essas posições sociais, como se cada um de representasse um lugar, um grupo. “Ela é a mulher que foi violentada, agredida. A pessoa sem voz que quer se vingar e não sabe como”, explica a atriz.

“Quando o Jé resolveu montar Gota D’Água mais preta a proposta foi trazer o universo da periferia para a cena. Com os acentos, não só os percussivos, mas os da cultura de periferia mesmo”, aponta o músico Fernando Alabê.

O sagrado também está presente na música. “Com pessoas da comunidade negra é natural que as religiões de matriz africana estejam presentes. Tem canto de candomblé, de umbanda e o jongo – dança de roda de origem africana com acompanhamento de tambores – serve de base. Tentamos trazer para a peça a maneira que o negro entende sua divindade”, realça Juçara.

O diretor musical William Guedes propôs uma instrumentação de saxofone somada a DJ, percussão, guitarra, violão e cavaco. “Com isso, temos uma estrutura musical que desfolcloriza a musicalidade de periferia, a musicalidade negra, que é o cerne desta peça”, observa Alabê.

O cenário também traz a representação da religiosidade afro-brasileira na concepção do artista Julio Dojczar, do coletivo casadalapa. Painéis simbolizando os Orixás e elementos de cena como a imagem de Ogum / São Jorge compõem o palco que remonta o período setentista em uma montagem que, assim como a encenação, busca a percepção do todo pela parte. As representações não são realistas mas induzem a criação imagética do espaço de cena.

Além de Jé Oliveira e Juçara Marçal a montagem traz ainda em cena a atriz, diretora e dançarina Aysha Nascimento (Coletivo Negro), a atriz e MC Dani Nega, a atriz e bailarina Marina Esteves, o ator Mateus Sousa, o ator, diretor e artista-educador Ícaro Rodrigues, o ator e diretor Rodrigo Mercadante (Cia do Tijolo) e o ator, dramaturgo e professor Salloma Salomão.

A direção musical é de William Guedes, da Cia. do Tijolo, e a música é executada ao vivo por DJ Tano, do Záfrica Brasil, nas pick-ups, Fernando Alabê na percussão, Suka Figueiredo no saxofone e Gabriel Longuitano na guitarra, violão, cavaco e voz. O cenário é assinado por Julio Dojczar, da casadalapa, e a luz é um projeto do light designer Camilo Bonfanti. O design de som é de Eder Bobb e Felipe Malta. Eder Lopes assina os figurinos e a assistência de direção. A produção é de Janaína Grasso.

A direção musical é de William Guedes (Cia do Tijolo) e a música é executada ao vivo por DJ Tano (Záfrica Brasil) nas pick-ups, Fernando Alabê na percussão, Suka Figueiredo no saxofone e Gabriel Longuitano na guitarra, violão, cavaco e voz, Jé Oliveira no cavaco e Salloma Salomão na flauta transversal. O cenário é assinado por Julio Dojczar, da casadalapa, e a luz é um projeto do light designer Camilo Bonfanti. O design de som é de Eder Bobb e Felipe Malta. Eder Lopes assina os figurinos e a assistência de direção. A produção é de Janaína Grasso.

Veja o teaser

 

 

 

Sinopse

Jona é uma mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional, preste a ser despejada junto com os dois filhos.
Jasão é um jovem, vigoroso, sambista e famoso. Por meio da metáfora de uma traição conjugal a obra busca refletir e realçar a discussão racial, social e de classes com base no atual momento político do país e debruça-se, sobretudo, acerca do golpe desferido por Creonte e Jasão contra a Joana – Povo.

 

Serviço

Onde | Auditório do Ibirapuera
Avenida Pedro Álvares Cabral, 0, Parque do Ibirapuera – Portão 2 – São Paulo – SP
Quando | De 10 a 12 de maio, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h.
Capacidade | 806 Lugares.
Classificação | 14 anos
Duração | 3h40 min – inclui intervalo de 20 minutos entre os atos.
Ingressos | R$ 30 inteira e R$ 15 meia-entrada. Vendas na bilheteria do local e pelo site do ingresso rápido.
Bilheteria | Sexta e sábado das 13h às 22h e domingo das 13h às 20h.
Informações (11) 3629 1075

Onde | Galpão do Folias – Espaço Reinaldo Maia
Rua Ana Cintra, 213 – Santa Cecília (ao lado do metrô Santa Cecília e do terminal de ônibus Amaral Gurgel)
Quando | De 15 a 19 de maio, quarta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h.
Capacidade | 100 Lugares.
Classificação | 14 anos
Duração | 3h20 min – inclui intervalo de 10 minutos entre os atos.
Ingressos | R$ 40 inteira e R$ 20 meia-entrada.
Bilheteria
Informações: (11) 3361.2223

 

 

Elcio Silva, especial para o PlanetaOsasco.com

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