PHILIP M. FEARNSIDE A hidrelétrica de Belo Monte atualmente está em construção no rio Xingu, apesar de suas muitas controvérsias. O governo brasileiro lançou uma campanha sem precedentes para represar afluentes do rio Amazonas, e Belo Monte é a ponta de lança para este esforço. O plano de expansão energética 2011-2020 prevê a construção de 48 grandes barragens adicionais no País, das quais 30 estariam na Amazônia Legal. [1]
Construir 30 represas em 10 anos significa uma taxa média de uma barragem a cada quatro meses na Amazônia brasileira até 2020. É claro, o relógio não para em 2020, e o número total de barragens planejadas na Amazônia brasileira ultrapassa 60. [2, 3]
A hidrelétrica de Belo Monte em si tem impactos substanciais. O projeto é incomum em não ter a sua principal usina localizada no pé da barragem, onde permitiria que a água que emergisse das turbinas continuasse fluindo no rio abaixo da barragem. Em vez disso, a maior parte do fluxo do rio será desviada do reservatório principal através de uma série de canais interligando cinco igarapés afluentes represados, deixando a “Volta Grande” do rio Xingu, abaixo da barragem, com apenas uma pequena fração de seu fluxo anual normal.
O que é conhecido como o “trecho seco” de 100 km entre a barragem e a casa de força principal inclui duas reservas indígenas, além de uma população de ribeirinhos amazônicos tradicionais. Uma vez que o impacto sobre essas pessoas não é o normal, ou seja, deslocamento pela inundação de um reservatório, elas não foram classificadas como “diretamente impactadas” no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e não tiveram as consultas e as compensações às quais as pessoas diretamente impactadas teriam direito.
A Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) considerou a falta de consulta aos povos indígenas uma violação dos acordos internacionais aos quais o Brasil é signatário, e, por sua vez, o Brasil retaliou cortando seus pagamentos de anuidades junto à OEA. A barragem também terá impactos mais conhecidos através da inundação de aproximadamente um quarto da cidade de Altamira, bem como as áreas rurais povoadas que serão inundadas pelo reservatório. [4]
NOTAS
[1] Brasil , MME (Ministério de Minas e Energia). 2011. Plano Decenal de Expansão de Energia 2020 . MME, Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Brasília, DF, Brasil . 2 vols. http://www.epe.gov.br/PDEE/20111229_1.pdf
[2] Brasil , ELETROBRÁS. 1987. Plano 2010: Relatório Geral. Plano Nacional de Energia Elétrica 1987/2010 (Dezembro de 1987) . Centrais Elétricas do Brasil (ELETROBRÁS), Brasília, DF, Brasil . 269 p.
[3] Fearnside, P.M. 1995. Hydroelectric dams in the Brazilian Amazon as sources of ‘greenhouse’ gases. Environmental Conservation 22(1): 7-19. doi: 10.1017/S0376892900034020
[4] Tradução parcial de: Fearnside, P.M. 2012. Belo Monte Dam: A spearhead for Brazil ’s dam-building attack on Amazonia? GWF Discussion Paper 1210, Global Water Forum, Canberra, Austrália. 6 p. Disponível em: http://www.globalwaterforum.org/wp-content/uploads/2012/04/Belo-Monte-Dam-A-spearhead-for-Brazils-dam-building-attack-on-Amazonia_-GWF-1210.pdf. As pesquisas do autor são financiadas pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (proc. 304020/2010-9; 573810/2008-7), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) (proc. 708565) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) (PRJ1).
Leia a série sobre Teles Pires:
Crédito de Carbono para a Hidrelétrica de Teles Pires 3 – Brechas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
Crédito de Carbono para a Hidrelétrica de Teles Pires 3 – Brechas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
Crédito de Carbono para a Hidrelétrica de Teles Pires 2 – O projeto de carbono
Crédito de Carbono para a Hidrelétrica de Teles Pires 1 – Barragens no Protocolo de Quiot o
Crédito de Carbono para a Hidrelétrica de Teles Pires 4 – Emissões de hidrelétricas e o IPCC
P hilip Fearnside é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências. Também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Em 2007, foi um dos cientistas ganhadores do Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).
As informações publicadas por “R.J.” (Registro de Jornalista significa a proteção de fonte e autoria da comunidade), os textos de colunistas e textos opinativos são de responsabilidade do autor. Fale com um conselheiro do CMIO para mais informações.